Amnistia Internacional acusa aliados dos EUA de cometerem "crimes de guerra" contra detidos na Síria

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Louai Beshara - AFP

A Amnistia Internacional denuncia num novo relatório, divulgado esta quarta-feira, os "crimes de guerra" contra dezenas de milhares de detidos suspeitos de jihadismo e os seus familiares, na sequência da derrota do Estado Islâmico, cometidos pelas autoridades autónomas curdas, com o apoio de Washington, no noroeste da Síria.

As pessoas detidas na sequência da derrota territorial do grupo jihadista Estado Islâmico (ISIS) na Síria em 2019 estão a ser alvo de violações sistemáticas das forças lideradas pelos curdos que continuam a ser apoiadas pelos Estados Unidos, de acordo com o relatório da organização. "São sujeitos a violações sistemáticas e morrem em grande número devido às condições desumanas de detenção no nordeste da Síria", denuncia.


A Amnistia Internacional acusa as autoridades autónomas curdas de manter detidas, cinco anos depois, mais de 56 mil pessoas suspeitas de serem membros do Estado Islâmico ou próximas em 24 centros de detenção e nos campos de al-Hoj e Roj, a maioria “arbitrária e indefinidamente”. Entre os detidos encontram-se cidadãos sírios, iraquianos e ainda de cerca de 74 outros países.

Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia, afirma que estão a ser cometidos “crimes de guerra de tortura e tratamentos cruéis e, provavelmente, crimes de guerra de homicídio", nomeadamente “espancamentos, posições dolorosas, choques elétricos, desaparecimentos forçados e violência baseada no género”. "Os Estados Unidos estão envolvidos na maior parte do funcionamento do sistema de detenção" acusa Callamard.


A secretária-geral da Amnistia Internacional acrescentou que o “governo dos Estados Unidos desempenha um papel central na criação e manutenção deste sistema, no qual morreram centenas de pessoas” e apela a que “seja dada prioridade ao desenvolvimento de uma estratégia global” para resolver estas violações que “só servem para reforçar as queixas e são sinónimo de injustiça sistemática”.

É um apelo feito pela organização no relatório “Síria. Consequências: Injustiça, tortura e morte na prisão no nordeste da Síria”, divulgado esta quarta-feira, que pede às “autoridades autónomas, membros da coligação liderada pelos Estados Unidos e à ONU” para “agir para remediar estas violações e pôr fim aos ciclos de abusos e de violência".

c/agências


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